quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Obras de transporte da Copa não saem do lugar



Por Daniel Rittner e André Borges - Valor 26/01
De Brasília

A menos de 30 meses da Copa do Mundo de 2014, o legado para o sistema de transporte de suas 12 cidades-sede está definitivamente comprometido. Pelo menos 19 obras de mobilidade urbana que deveriam ter avançado entre setembro de 2011 e janeiro de 2012, conforme previa o último balanço divulgado pelo governo federal, tiveram o cronograma descumprido. A lentidão dos projetos fica ainda mais evidente quando as obras são confrontadas com os desembolsos de financiamento feitos pela Caixa Econômica Federal.

Maior agente financeiro dos empreendimentos de mobilidade, a Caixa liberou até hoje apenas R$ 194 milhões dos R$ 5,3 bilhões de empréstimos pedidos por Estados e municípios. A maioria desses financiamentos foi contratada entre julho e dezembro de 2010, mas a baixa qualidade dos projetos apresentados tem sido o principal motivo para que o desembolso atual seja inferior a 4% do total planejado.

"O legado será bem menor do que o esperado", lamenta José Roberto Bernasconi, presidente do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco) em São Paulo. "O tempo está passando e não vai dar para fazer muita coisa. Podemos acelerar obras absolutamente cruciais e realizar operações especiais, mas isso não é muito mais do que gambiarra, diante do que deveríamos ter."

Os gestores da Copa nas cidades-sedes ressaltam que muitos projetos de envergadura, como monotrilhos e veículos leves sobre trilhos (VLTs), ficarão como legado à população mesmo se forem concluídos somente depois do evento esportivo. No entanto, se a ideia era fixar um prazo específico para a entrega de projetos com forte impacto na mobilidade urbana de grandes cidades, o compromisso de concluir essas obras acabou se tornando algo bem mais relaxado.

Um dos casos emblemáticos é o de Manaus, que se prepara para construir um monotrilho com 20,2 quilômetros de extensão, ligando o centro aos arredores da Arena da Amazônia. Para ficarem prontas em maio de 2014, um mês antes do início da Copa, as obras deveriam ter começado em novembro de 2011. Enfrentam, no entanto, uma pilha de problemas. A licitação já foi feita, mas a Controladoria Geral da União (CGU) e o Ministério Público Federal (MPF) encontraram irregularidades no projeto básico, o que suspendeu as negociações de empréstimo com a Caixa. O licenciamento ambiental esbarra na resistência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em liberar a passagem do monotrilho pelo centro de Manaus e o projeto executivo ainda não foi iniciado.

Com isso, o governo do Amazonas já trabalha com a hipótese de que as obras só terminem depois de 2014. O coordenador da unidade gestora da Copa no Estado, Miguel Capobiango, relativiza os prazos. "As festas do boi são realizadas em outubro, no sambódromo que fica ao lado da futura arena, e já chegaram a receber 180 mil pessoas em um único dia. Se algum trecho do monotrilho ficar pronto até a Copa, ótimo. Mas está tudo bem atendido com o transporte coletivo existente. A Fifa entendeu perfeitamente e considerou a nossa solução pertinente", diz.

Outras cidades, como Salvador e Cuiabá, trocaram em cima da hora os sistemas de transporte escolhidos. Ambas tinham projetado corredores de BRT, sigla em inglês para transporte rápido por ônibus, um sistema que inclui faixas exclusivas de tráfego, veículos com ar-condicionado, embarque na mesma altura da plataforma e com pagamento antecipado. Salvador trocou o BRT, que já tinha financiamento contratado, por uma nova linha de metrô. O governo da Bahia diz que ela só ficará pronta em 2015 -- a primeira linha, que ainda não entrou em operação, está sendo construída há mais de 12 anos.

Cuiabá optou por um VLT, conhecido como metrô-leve, muito mais caro e polêmico. Havia assumido o compromisso de iniciá-lo em março, mas a licitação só deve sair em fevereiro - dois meses depois do programado - e ainda vai passar por audiências públicas.
A construção de BRTs em cidades como Fortaleza e Porto Alegre também atrasou, mas suas obras podem avançar mais rapidamente do que outros sistemas e a demora é menos preocupante. A coordenadora técnica da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Valeska Peres Pinto, faz uma advertência às cidades que pretendem usar esse sistema. "Se as encomendas não forem feitas logo, os corredores podem ficar prontos, mas eles são apenas parte do BRT. Há um risco de falta de ônibus", alerta.

O levantamento feito pelo Valor abrange 46 projetos de mobilidade urbana que constam da matriz de responsabilidades firmada entre União, Estados e municípios. O documento estabelece as responsabilidades de cada um dos signatários no que diz respeito à infraestrutura urbana para a realização da Copa do Mundo. Em 14 de setembro, o governo federal divulgou um balanço das obras, com um detalhamento sobre o cronograma que elas deveriam seguir nos meses seguintes. De lá para cá, 19 não cumpriram o calendário - início das obras ou conclusão dos processos licitatórios - e seis atenderam apenas parcialmente ao cronograma. Outras 14 obedeceram os prazos fixados. Sete obras já estavam em andamento.

O Ministério das Cidades, responsável pelo monitoramento dos projetos de mobilidade urbana para a Copa do Mundo, não atendeu aos pedidos de entrevista feitos várias vezes.

Um caso peculiar é o de São Paulo. Quando a matriz de responsabilidades foi assinada, em 2010, o Morumbi era o estádio com maiores chances de ser escolhido para a realização dos jogos. Por isso, a linha 17-Ouro do metrô era a única obra incluída na matriz. Com a troca do Morumbi pelo Itaquerão, o foco da prefeitura e do governo estadual passou a ser intervenções viárias na zona leste de São Paulo.

Mesmo assim, um dos três trechos da linha 17 - que será construída como monotrilho - foi mantido na matriz de responsabilidade, com a justificativa de que servirá para ligar o aeroporto de Congonhas à rede de trens da CPTM (estação Morumbi). O contrato com as empreiteiras responsáveis já foi assinado e as obras aguardam licença de instalação para começar. Apesar disso, podem não ficar prontas até maio de 2014, prazo definido na matriz e com o qual a Secretaria de Transportes Metropolitanos diz não se comprometer mais.

Obras da Copa - Beira-Rio

Estadio Beira-Rio

Nome oficial: Estádio José Pinheiro Borda


Área do terreno: 305.470 m²

Área construída: 171.082 m²

Início do projeto: 2006

Início das obras: Julho/2010

Arquitetura: Hype Studio; Santini e Rocha Arquitetos (gerenciamento técnico e detalhamento); Simom Engenharia (cálculo estrutural de fundações e estruturas)

Gerenciamento de projetos: Hélio Gregory Giaretta Jr.

Consultorias: Daniel Filippon (elétrica e hidráulica); Maristela Kuhn (gramado)

Projeto básico R$ 590 mil

Status : Atrasada
 
Do JC Online 05/01/2012


Depois de meses de interrupção, as obras de modernização do Estádio Beira-Rio para receber a Copa do Mundo de 2014 finalmente deverão ser reiniciadas. Para compensar o atraso de alguns meses, a Prefeitura da capital gaúcha autorizou o clube a trabalhar ininterruptamente na obra, 24 horas por dia.

O presidente do Inter, Giovanni Luigi, garantiu que as obras reiniciam antes mesmo da estreia do time na Libertadores, que ocorre no próximo dia 25. Nesta quinta, ele recebeu o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, que aproveitou a ocasião para anunciar obras que melhorarão o acesso ao estádio.

O impasse entre o Internacional e a construtora Andrade Gutiérrez atrasou o andamento das obras do Beira-Rio para o Mundial. Com isso, Porto Alegre ficou para trás e perdeu a disputa para ser sede da Copa das Confederações, que ocorre em 2013.

A assinatura do contrato com a construtora ocorrerá na semana que vem. A Andrade Gutiérrez bancará o orçamento e apresentará as garantias bancárias exigidas pela Fifa. O estádio deve ficar pronto no primeiro semestre do ano que vem.



quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Crise ameaça fechar clubes no futebol espanhol



Por Ian Rogers
Reuters, de Madri

Agora que o abrangente pacote de austeridade do novo governo espanhol começa a se fazer sentir, vai se tornar cada vez mais urgente a necessidade de os ricos clubes Real Madrid e Barcelona concordarem com uma distribuição mais equitativa das receitas de TV.

Já afundada em dívidas e sob pressão do custo crescente de salários e transferências, a maioria dos 42 clubes profissionais na Espanha está se preparando para uma possível nova recessão, mais aperto nas receitas de publicidade, aumento de impostos e uma crescente relutância - de bancos em dificuldades e autoridades locais obrigadas a economizar - a conceder empréstimos e ajuda financeira.

A confluência desses fatores, após anos de gastança e má gestão, poderá até implicar o desaparecimento de alguns dos clubes mais afetados, segundo Anjo Barajas, professor de gestão financeira na Universidade de Vigo. "Poderemos ver alguns clubes sendo administrados por interventores, mas incapazes de sanear suas contas em prazos determinados pelos tribunais e condenados à extinção."

A venda dos direitos de TV da Liga espanhola, ao contrário dos demais campeonatos europeus, é negociada individualmente, clube a clube, e rende cerca de € 600 milhões (US$ 768 milhões). O Real e o Barça, juntos, apropriam-se de cerca de metade desse total.

Esse predomínio significa que podem se dar ao luxo de comprar os melhores jogadores e pagar salários altíssimos, enquanto muitos rivais são obrigados a apelar à concordata após uma luta inútil para manter a sua competitividade.

Um estudo publicado em junho por José Maria Gay, professor de contabilidade da Universidade de Barcelona, mostrou que os 20 clubes na primeira divisão espanhola tinham, juntos, uma dívida em torno de € 3,48 bilhões no fim da temporada 2009-10. Some-se a isso outros € 550 milhões devidos pelas 22 equipes da segunda divisão, e o resultado é que o futebol profissional espanhol deve € 4 bilhões.

Os clubes devem cerca de € 700 milhões somente em impostos, segundo reportagem publicada no mês passado pelo jornal "El País".

A Liga precisa urgentemente promover uma reestruturação financeira total, particularmente em vista das novas orientações econômicas da Uefa que entrarão em vigor e incluem sanções contra os clubes que gastam mais do que ganham, dizem analistas.

A adoção de um sistema de negociação coletiva dos direitos de TV ajudaria a impedir que mais clubes entrem em dificuldades e voltaria a tornar a liga mais competitiva, acrescentam eles.

"A solução é colocar em prática um plano de socorro sério, o que permitiria o acesso dos clubes a dinheiro para liquidar suas dívidas mais prementes", disse Gay. "O pré-requisito é que os clubes centralizem os direitos de transmissões de TV e pactuem uma maneira séria e eficaz de administrá-los."

"Até que seja dado esse passo à frente, as finanças dos clubes espanhóis continuarão a deteriorar-se, com números cada vez mais assustadores em sua contabilidade."

Um estudo realizado no ano passado pela consultoria Sport+Markt mostrou que o Real e o Barça ganharam quase 19 vezes mais, com TV, do que os menores clubes da primeira divisão espanhola, a maior desigualdade nas principais ligas europeias.

Os mais ricos clubes ingleses, que dispõem de um sistema de compartilhamento de renda, faturaram cerca de 1,7 vez mais do que seus concorrentes menores. No entanto, apesar da pressão de competidores nacionais, como Sevilla e Villarreal, os dois maiores na Espanha têm mostrado poucos sinais de disposição para ceder terreno.

Autoridades disseram que a partir da partir da temporada 2015-16, quando novos contratos de TV entrarão em vigor, a dupla estará disposta a compartilhar parte do dinheiro extra que foi negociado com as empresas de mídia sem reduzir suas receitas atuais.

Entretanto, analistas dizem que isso provavelmente apenas consolidaria a dominação desses clubes, e é preciso observar que no atual clima econômico não há certeza de que os valores fixados nos novos contratos serão reajustados para cima. "Todos sabemos por que há 27 clubes sob intervenção administrativa", disse Carlos Gonzalez, presidente do Córdova, time da segunda divisão, à mais recente edição da revista da liga de futebol profissional. "Estou convencido de que nenhum dos presidentes vem roubando, mas muitos deles pensaram que os clubes eram como se fossem brinquedinhos por meio dos quais eles poderiam canalizar negócios para suas próprias empresas", acrescentou.

"Então, naturalmente, quando a crise chegou, tudo desmoronou. As receitas das bilheterias, dos sócios dos clubes e da publicidade está caindo sem parar e não temos ideia de quanto dinheiro vamos receber das TVs no futuro. Estamos em crise, assim como o resto do país e todo o mundo ocidental."

O Partido do Povo, organização política de centro-direita atualmente no poder na Espanha, disse que planeja incentivar o Real e o Barça a negociar um consenso com seus rivais para uma distribuição mais justa do dinheiro da TV.

No entanto, diversos analistas, entre eles Plácido Rodriguez, professor de economia na Universidade de Oviedo e ex-presidente do clube Sporting Gijón, não acreditam que o governo terá tempo ou inclinação para resolver os problemas do futebol.

"Não haverá um novo plano financeiro para equacionar as coisas", disse Rodriguez à Reuters.

"Em vista de tudo o que o governo tem de enfrentar, [as autoridades] não estão em condições de atacar os problemas no mundo do futebol", acrescentou ele. "Elas já estão suficientemente ocupadas tentando solucionar os problemas no setor bancário."

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Para FGV, receita do futebol pode chegar a 1,1% do PIB



Por Rodrigo Pedroso - Valor 11/01
De São Paulo

O futebol brasileiro movimentou R$ 11 bilhões em 2010, mas a receita poderia ter sido quase cinco vezes maior caso o esporte tivesse uma exploração mais eficiente. A constatação está em estudo realizado pela Fundação Getulio Vargas-Projetos (FGV-Projetos) e mede o impacto do esporte na economia nacional.

O cálculo do impacto do futebol na economia levou em conta não apenas a movimentação de setores diretamente ligados ao esporte, como clubes e entidades, vestuário, comunicação e serviços associados, mas também áreas que sofreram algum tipo de impacto, como serviços imobiliários e transportes.

A receita do futebol nacional teve potencial para chegar a R$ 62 bilhões em 2010, segundo Fernando Blumenschein, coordenador do estudo. O cálculo foi feito com base no que foi movimentado pelo futebol europeu naquele ano ajustado ao Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB). "O potencial foi feito em relação ao benchmark dos clubes europeus. Se a estrutura e administração daqui fossem como a deles, seria isso que poderíamos gerar", afirma.

O coordenador acredita que alguns aspectos fundamentais precisam ser melhorados para que todos os setores que estão ligados de alguma forma com o esporte aumentem suas receitas: capacidade de exploração das marcas, venda de direitos de imagens, ocupação dos estádios, exportação do produto para outros continentes e melhor governança e administração dos clubes. "A discrepância não é à toa. Na Europa, há uma gerência melhor da cadeia produtiva como um todo e consegue-se agregar mais valor ao futebol", diz.

O estudo aponta que os clubes de futebol geraram 29% do potencial de sua receita - em 2010, os 783 times profissionais brasileiros movimentaram R$ 2,1 bilhões. Os contratos de licenciamentos renderam 3% de seu potencial e as receitas de estádios chegaram a 37% do que poderiam alcançar caso fossem melhor exploradas.

A Primeira Divisão do Campeonato Brasil, com 20 clubes, teve salário médio de R$ 3.813 (o estudo leva em conta todos os funcionários, incluindo jogadores, mas não contabiliza os valores referentes a direitos de imagem). No entanto, o vencimento mensal médio foi de R$ 2.107, sendo que para os times que não entraram em nenhuma das quatro divisões da disputa nacional o salário ficou em média em R$ 875. "A rentabilidade e a estrutura atuais concentram os valores. Se houvesse mais retorno no geral poderia se pagar salários mais altos", afirma Blumenschein.

O levantamento mostra também que o futebol gerou 371 mil empregos em toda a cadeia produtiva, enquanto os clubes por si só foram responsáveis por 30 mil deles. E assim como na movimentação geral, o potencial de empregos é quase cinco vezes maior do que o verificado: 2,1 milhões de ocupações ligadas ao esporte poderiam ter sido criadas.

Em relação ao PIB de 2010, o futebol, direta e indiretamente, foi responsável por 0,2% de tudo o que foi gerado no país no ano. Caso a receita total tivesse atingido seu potencial, ela representaria 1,1% do PIB. "O futebol é mal aproveitado. Até por ser uma paixão nacional, é um produto de grande demanda em todos os aspectos e que poderia ser muito mais rentável."